29 de set. de 2010

MOVIMENTE-SE

Padarias, mercados, pizzarias, farmácias, bancos, empresas de tecnologia, entre tantas outras são empreendimentos que fazem parte do nosso cotidiano e necessitamos desses serviços operados por profissionais para que muitas coisas rotineiras sejam realizadas com agilidade e sucesso. Não importa se são micro ou macro empresas, mas a idéia dos empreendedores é de fato buscarem inovação ou no mínimo prestarem serviços triviais com a busca de excelência na qualidade para que tenham sempre clientela fixa e potencialmente ativa fazendo o negócio girar.
Curiosamente apesar de estarmos cercada de tantas empresas, na maioria das vezes temos uma idéia fictícia e fantasiosa do que é ser um empreendedor, e eu juntamente com meu grupo, temos entendido o quão difícil é executar essa função.
Criar, construir e planejar uma empresa tem sido um grande desafio. Muitas idéias surgem, mas quando fazemos uma análise real de mercado percebemos que a busca de um negócio inovador e criativo torna-se muito mais difícil do que aparenta ser. Isso teve início com nossa primeira idéia, que resumidamente tratava-se de um negócio do qual ofereceríamos serviços da área de educação física a comunidades carentes obtendo subsídios governamentais. Logicamente, qualquer empreendimento é trabalhoso, mas esbarramos muito precocemente em várias dificuldades que esse negócio nos traria, contando que as exigências legais e as dificuldades operacionais eram imensas, resolvemos mudar de atuação.
Entenda que essa descrição não se trata de uma abertura de empresa real, mas de um estudo de plano de negócio.
Sabemos que muitos negócios são viáveis, dependendo de quão disponível somos, seja em trabalho ou financeiramente, mas como aqui o nosso projeto, tem que ser posto em prática, mas é tratado de maneira fictícia, buscamos outro ramo de atividade que possivelmente fosse mais acessível a todas as pesquisas que seriam realizadas, e a toda preparação. Nosso grupo manteve desde o início uma busca incessante por algo real, ou bem próximo dela. Consideramos muitos fatores, principalmente a questão de que partimos de um ponto quase zero financeiro. Buscamos enxergar no nosso mercado, um problema real que faria do nosso negócio no mínimo atrativo e por fim buscamos nos certificar da viabilidade desse empreendimento, realizando muitas pesquisas de campo.
A Movimente-se é uma empresa de macro captação que atua nas escolas para promover os horários de pouca frequência das academias. Inicialmente nos valemos desse ponto da diminuição de frequência nos períodos do final da manhã e tarde como um problema real do mercado das academias, já que seu público alvo geralmente utilizam do período matutino e noturno para realizarem suas atividades físicas. Ao percebermos essa lacuna, tentamos buscar um espaço do qual encontraríamos público alvo que teriam essa disponibilidade de horário. Considerando que esse período, na maioria dos casos são das pessoas que estão fora do mercado de trabalho tradicional (horário comercial), acreditamos que a escola seria um bom nicho, já que a juventude é um publico em potencial.
Dentre outros detalhes que pensamos, a idéia foi se solidificando e passamos a buscar respaldos no mercado real para saber o quanto isso era viável. Meu primeiro passo foi conversar com pessoas que trabalham nas escolas, para entender o quanto essa divulgação é válida. Depois eu iniciei uma busca com as empresas de macro captação tanto dentro da capital paulista, como também no interior. Essas empresas não atuam na área esportiva, mas fazem a macro captação para escolas de informática, inglês, entre outras e puderam nos passar de forma clara e objetiva muitos detalhes operacionais e também nos esclarecer as problemáticas, para que tivéssemos consciência do trabalho e dos acertos que faríamos. Por fim, buscamos a pesquisa nas academias. Eu e o grupo procuramos diversos espaços, com características e portes distintos para entender a viabilidade do nosso empreendimento. Também colhetamos valores e buscamos esclarecer todas as possíveis situações operacionais.
Sendo assim a empresa estava definida. Ficticiamente montamos operações, cargos e balanços financeiros considerando sempre valores reais e possibilidades existentes no mercado para realmente concretizar se a Movimente-se seria minimamente rentável.
Confesso que a parte mais interessante e surpreendentemente fácil foi a pesquisa de campo. Desde o momento que fui em busca de conhecimento dos três segmentos: escola, macro captação e academias tive sucesso imediato. Consegui colher todas as informações necessárias com certa facilidade. Mesmo sem conhecer as pessoas, achei bem interessante a disposição que os empreendedores tem em colaborar com projetos universitários, já que essa foi minha estratégia para adquirir informações preciosas, como por exemplo, dados financeiros.
A parte mais difícil foi a financeira. Fazer acertos de balanços e detalhar cada custo da empresa e receita foi bem complicado. Mas no final acabamos surpreendidos positivamente.
A Movimente-se apenas iniciou sua caminhada, e tenho consciência que a vunerabilidade do mercado dificulta muito as coisas, mas confesso que tenho aprendido muito e acredito verdadeiramente no potencial da nossa empresa, que com acertos, pode até vir a sair do papél e se tornar um empreendimento de sucesso.

12 de jun. de 2010

Prova? Não...O resumo de tudo que se compreende!

Foto Rogério Reis – Exposição Na Lona – Rio de Janeiro, Brasil

Dentre tantas imagens que vi, que falam tantas coisas e representam das mais cômicas as mais profundas realidades ou não, encaixei meus pensamentos ao ver a fotografia acima. Rogério Reis, brasileiro, fotografou durante quatorze anos carnavalescos anônimos, para eternizá-los num fundo de lona.
Quatorze anos é muito tempo, e com certeza muitas coisas foram vistas, mas essa fotografia estática hoje, não é estática porque é vida e é vida, vivências, experiências o que eu tenho aprendido a fazer neste pequeno e tão veloz semestre.
E uma das vivências mais marcantes para mim, foi a experiência da cultura corporal do movimento. Mauss (1974) juntamente com Daolio (1995) me fez compreender a importância da antropologia na educação física. Quando falamos em educação física, falamos de gente, gente essa que é um todo, e a antropologia é o estudo do homem, mas que vai além disso, propondo ao cientista a experimentação. O menino da foto assim como eu, se vestiu de palhaço, por motivos e em tempos diferentes, mas utilizamos da experimentação da mascarada. A personificação temporária, a entrada em um jogo que descaracteriza seus padrões sociais, é a quebra de valores, e a quebra comportamental que me levou em pouco mais de duas horas de experiência a sensações nunca vividas. Daolio (1995, p.39-40) “O homem, por meio do seu corpo, vai assimilando e se apropriando dos valores, normas e costumes sociais num processo de inCORPOração (a palavra e significativa). Diz-se corretamente que um indivíduo incorpora algum novo comportamento ao conjunto de seus atos ou uma nova palavra ao seu repertório cognitivo. Mais do que um aprendizado intelectual, o indivíduo adquiri um conteúdo cultural. Em outros termos, o homem aprende a cultura por meio do seu corpo”.
Dizer o que os personagens da foto viveram naquele dia de carnaval não cabe a mim, até porque são personagens anônimos, mas compreendo que perceber como nosso corpo reagiu nas mais distintas vivências, é entender que o corpo está dentro de um mundo interligado, não mecânico (Prigogine, 1991), não físico, mas de um corpo tão complexo, que está dentro de uma sociedade, que está dentro de uma cultura e que está dentro de um mundo composto por diversidades.
Freire (1991, p. 53) “...Existe uma tendência para esquecer que o conjunto da ciência esta ligado a cultura humana em geral, e que as descobertas científicas mesmo as que num dado momento parecem as mais avançadas, esotéricas e difíceis de compreender, são despidas de significação fora do seu contexto cultural.” . Entender o porque das experiências, é entender o porque da educação física. Sair do estático e movimentar-se é o que precisamos compreender como forma de estudo e aprendizagem. Tudo o que Viviane Mosé fala no programa Café folosófico, e tudo que aprendemos de experiências corresponde ao que o Daolio (2005) fala em "formar-em-ação", que é a formação verdadeira de um indíviduo e que não se limita a quatro paredes, mas que se estende para uma vida, pois é nesse contexto que buscamos sair apenas do procedimental, mas adentramos no conceitual para ter o entendimento e mobilizamos o atitudinal, trazendo transformação e quebrando paradigmas (Darido, 2007).
Na foto, apesar de não haver movimento corporal de dança, sabe-se que por ser um momento de carnaval, de lazer, já que "o ócio é uma arte" (De Masi, 2000, p.316) a dança faz parte do contexto dessa festividade.  A dança é sólida dentro da educação física, mas dança vai muito além dessas linhas, já que é a representação das culturas, é o movimento de todo seu ser, sendo expresso através do corpo da maneira que for, com ritmos mais precisos dentro de coreografias, ou na livre e lúdica expressão de colocar para fora o que se sente e o que se pode (como o grupo de deficientes mentais do projeto sentir - documentário) pois como diz Bogéa (2007, p.54) “O corpo se comunica por movimentos, sons e palavras, que expressam um saber”.
A dança está implicitamente presente nesta fotografia, assim como a luta, mas não uma luta de movimentos com socos ou chutes. Somos um povo com tantas distinções salientada também de forma econômica, mas que permite em um momento lúdico a guerra pelos mesmos direitos, o direito de festejar, de se entregar com o corpo para um momento de ludicidade. No carnaval, esses personagens terão um tempo e um espaço definido, passaram por um ritual -como a caracterização-, lutaram durante toda uma preparação e lutarão no momento do desfile, do qual armas surpresas podem aparecer, do qual a imprevisibilidade pode ajudar. A vontade e a liberdade está presente, mas a tensão também. A festa é bela, e no caso de alguns exemplos de festividades a luta entre blocos podem existir, mas num carnaval não midiático, a luta da simples permissão para o uso de um  mesmo espaço de um carnaval esteriotipado também está presente (Huizinga, 2004). A luta, o jogo, o lúdico estão presente implicitamente nessa foto, seja como um jogo de guerra, seja como um jogo lúdico da vida, assim como diz Huizinga (2004, p. 13) " O jogo lança sobre nós um feitiço: é "fascinante", "cativante". Esta cheio de duas qualidades mais nobres que somos capazes de ver nas coisas: o ritmo e a harmonia". A luta e o desejo de vencer está cravado no ser humano, não importando se é uma simples brincadeira como um jogo de damas, xadrez, se é dentro de um esporte olímpico de alto rendimento, se é na luta entre tribos indígenas, ou no direito de se sentir incluso em uma sociedade que é marcada pelas divisões e descriminação, por isso cabe também aos professores, sejam de educação física ou não, fazerem o papél de integração, assim como os professores personagens dos filmes " Entre os Muros da escola", "Escritores da Liberdade" e "Vem dançar" que utilizam da ferramenta de aproximação e interação com e dos alunos para transformar suas vidas. Essas características fazem parte também de um tipo de jogo: o cooperativo. Os jogos cooperativos tem algumas intenções como diz Brotto (2002, p.40) “Ética Cooperativa: con-tato, respeito mútuo, confiança, liberdade, re-creação, diálogo, paz-ciência, entusiasmo e continuidade" . E esse trabalho dos jogos cooperativos, leva para a vida a compreensão da cooperatividade e principalmente da não exclusão, fator que aparece também implicitamente na fotografia de Rogério Reis da qual ao utilizar pessoas anônimas, provavelmente desfavorecidos economicamente (previsão da qual eu posso estar errada, já que desconheco a origem da fotografia) tem o prazer de interagir, já que o carnaval e o desejo de fazer parte dessa festividade é livre, e convida a todos, e o fotógrafo se vale de alguns em meio a uma multidão, tornando-os protagonistas.
A fotografia também me leva a uma outra percepção: a improvisação. Apesar da imagem ser preto e branco e não mostrar a mulher de forma inteira, a impressão que tenho é que as roupas não são fantasias profissionais, mas talvés improvisadas, talvés costuradas pela própria mulher, de forma simples, mas que mostra claramente seu significado. A arte de fazer as roupas, de improvisar, também é presente na educação física, já que é necessário criatividade a todo momento, seja para saber constituir uma aula recreativa que se adequa as necessidades de cada aluno (Queiroz, 1998), seja para adequar nos materiais como nas aula de skate, le parkour, ou até mesmo na criatividade da maravilhosa forma de introduzir a ginástica na vida das pessoas quebrando todos os conceitos e pré-conceitos que se tenha sobre o assunto. A improvisação e a criatividade são particularidades exclusivas do ser humano, assim como diz  Mello (2003, p. 29) “Mesmo numa época tão automatizada, a máquina não consegue realizar coisas que são especificamente humanas – o brincar, o simular, o divertir-se, o fantasiar; quando essas particularidades desaparecem, o homem perde marcas fundamentais de sua singularidade”. E com certeza, essa foto, também desperta através da criança, que vestido de forma tão bela e graciosa e que provavelmente nem compreendia a festividade do carnaval, a vontade de brincar, de ser criança, como fizemos nas brincadeiras infantis (Pieter Brughel) e também em muitos momentos na visitação a exposição do Hélio Oiticica, do qual interagíamos com as obras que nos levava ao ludicismo intenso, fazendo-nos sair de nós mesmos e trascender para um momento que nos remetia para um passado, porém hoje.
Essa fotografia tão peculiar mas ao mesmo tempo tão comum, já que é nossa cara, nosso povo, me leva a tentar vê-la como é, mas isso é impossível já que tudo o que posso fazer vendo-a assim, estampada como uma fotografia é tentar deduzir, ou supor a respeito desses personagens que agora eu os conheço, mas o que posso garantir é que por traz dessa imagem existe a verdade da vida dessas pessoas que por algum momento, em algum dia, passaram pelas lente desse fotógrafo.
Acredito também que mais importante talvez do que conhecer esses personagens é conseguir transpor dentro dos mais diversos assuntos, características da educação física, já que hoje e cada vez mais tenho a convicção e o respaldo de que educação física não se limita ao corpo físico, ao esporte, a luta ou a qualquer coisa que a caracterize, mas que educação física é corpo todo, e corpo todo é vida.

Bibliografia:
MAUSS, Marcel. Sociologia e Antropologia, E.P.U, EDUSP, São Paulo, 1974, vol. 1.
DAOLIO, Jocimar. Da cultura do corpo. Editora: Papirus, Campinas, 1995, 108 p.
FREIRE, João B. - De corpo e alma: O discurso da motricidade. Editora: Summus, São Paulo, 1991, 3º ed.
DARIDO, Suraya C. - Para ensinar educação física: Possibilidade de intervenção na escola. Editora: Papirus, Campinas, 2007, p.341.
PRIGOGINE, Ilya e STENGÉRS Isabelle. A nova aliança: metamorfose da ciência. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1991. STEVEN, J., Interface Culture.
BOGÉA, Inês. Um Início do que virá - IN: BERTAZZO, Ivaldo. Espaço e corpo guia de reeducação do movimento, SESCSP, São Paulo, 2007, 235 p.
HUIZINGA, Johan. Homo Ludens: O jogo como elemento da cultura. Editora: Perspectiva, São Paulo, 2004, 5º ed. 256 p.
BROTTO, Fábio O. - Jogos cooperativos: O jogo e o esporte como um exercício de convivência. Santos: Projeto Cooperação, São Paulo, 2002.
QUEIROZ, Claudia Alexandre. Recreação Aquática. Editora: Sprint, Rio de Janeiro, 2000.
MELLO, Miriam M. de. O lúdico e o processo de humanização – IN: MARCELLINO, Nelson C. Lúdico, educação e educação física, editora: Unijuí, Ijuí, 2003, 2º ed., 230 p.
BRUEGHEL, Pieter - Obra: Jogos Infantis, 1560.













6 de jun. de 2010

saltar, equilibrar, rolar... Isso é ginástica e também le parkour

Sempre gostei de fazer atividades físicas e logicamente isso contribuiu para a escolha do curso de educação física. Já fiz iniciação a Ginástica Artística (antiga olímpica) na infância, já joguei no time de handebol da escola, já fiz natação, academia, enfim. Mas o curioso é que o fato de eu ter praticado essas coisas não fez com que eu compreendesse muito dos seus significados, ou seja, é a questão apenas do procedimental (fazer) e nunca do atitudinal, tampouco do conceitual (Darido, 2007).
Essa semana tive a experiência de fazer uma ginástica diferente de tudo que já havia feito nas academias, uma ginástica lúdica da qual a sensação era que eu estava brincando com meu corpo e com os corpos dos outros alunos. Foi uma ginástica que eu gostaria que todos pudessem experimentar, tamanho o prazer em fazê-la, além da interação direta, do toque nos outros corpos, das trocas de informações. A ginástica que nos foi apresentada era inicialmente brincadeiras como, em uma banco de madeira estreito tinhamos que nos organizar em ordem de tamanho sem descer do banco, passando um entre o outro e protegendo os companheiros para que também não caíssem, ou ser jogado como um boneco de vento que caí de uma lado para outro, ou ainda nos organizarmos em grupo para seguir regras de como o grupo poderia se manter com dois ou três pés no chão quando éramos em dez, e assim tinhamos que plantar bananeira ou deitar, ou ajoelhar para cumprir o que o jogo propunha, enfim. Experiência que trouxe muito prazer, mas que depois de executada, nos foi apresentada surpreendentemente como atividades de iniciação a ginástica acrobática. Logicamente eram movimentos muitos simples e limitados comparados as grandes acrobacias de grupos profissionais, porém trabalhou em nós questões fundamentais como a confiança um no outro, já que dependíamos um do outro para executar as atividades, ou formação de figuras que fazíamos ao improvisar como agir em determinada tarefa, ou ainda a percepção de que alguns tinham mais medo de ousar e mantinham-se sempre no chão, enquanto outros se propuseram a ser colocados no alto, podendo ser analizado que, por exemplo, em uma formação de pirâmide humana, alguns servem para ser base e outros para subirem, além de toda interação e magia que fizeram parte das atividades naquele momento.
Foi uma percepção totalmente nova da ginástica, que eu mesma via limitadamente como movimentos de alongamento, por exemplo. Além de que são situações simples que exigem poucos equipamentos e que pode ser aplicado -com segurança- nas escolas ou em academias e com certeza, a visão sobre ginástica seria transformada totalmente, assim como aconteceu comigo.
Além disso, outra forma de atividade corporal foi trabalhada: A iniciação ao Le Parkour. Igualmente a dinâmica da ginástica, sabemos que a prática desse esporte exige muito treino e habilidades corporais, mas que a iniciação proporciona um jogo com características lúdicas (Huizinga, 2004) e proporciona um contato inicial com um novo esporte, que poderá ser praticado depois se houver afinidade com a prática. As dificudades e facilidades também aparecem muitas vezes nos surpreendendo, como o salto em quatro gavetas de plinto ou os rolamentos (eu na foto). E são nessas situações que percebemos como nosso corpo sofreu transformações ao longo do tempo, já que rolar ou pular nas brincadeiras de mãe-da-mula eram tão comuns e tão fáceis de serem realizadas e hoje são movimentos vistos com certo temor de serem praticados.
Vídeo Le Parkour

Fazer Le Parkour ou ginástica, mecher e ousar com o corpo traz recordações das habilidades dos jogos infantis (Pieter Brughel), e nesse momento proporciona o prazer de um jogo livre, mas também o esclarecimento de todas as mudanças corporais, porém com novas perspectivas: Praticar, experimentar é maravilhoso, mas também, maravilhoso será proporcionar essas experiências para quem não as conhece e ensinar na nova metodologia da ação.

Bibliografia:
DARIDO, Suraya. Para ensinar educação física: Possibilidades de intervenção na escola. Editora: Papirus, Campinas, 2007, 1º ed., p. 112
HUIZINGA, Johan. Homo Ludens: O jogo como elemento da cultura. Editora: Perspectiva, São Paulo, 2004, 5º ed. 256 p.
BRUEGHEL, Pieter - Obra "Jogos Infantis", 1560

30 de mai. de 2010

PALHAÇOS

Hoje percebo como a vida tem passado sem que eu conheça nada dela. Sujeitar-me a fazer atividades que eu jamais faria se não estivesse nesse curso, me fez refletir e entender que não precisamos levar a vida de forma quadrada, mas compreender que as oportunidades do novo estão a nossa frente...é só querer!
A proposta das vivências, me fez viver algo novo, inusitado e extremamente prazeroso: Fomos as ruas vestidos de palhaços para divertir e quebrar a rotina de todos que circulavam pela avenida naquela noite.
Individualmente acredito que cada um de nós teve percepções e sentimentos diversos e distintos. Uns naturalmente são mais tímidos e sentiram-se mais retraídos com a caracterização, outros como se fosse algo rotineiro, incorporaram o personagem e se jogaram para as ruas. Coletivamente acredito que apesar dos temores, da tensão e até da vergonha inicial, a diversão foi incomparável. Confesso que foi um momento do qual me diverti como criança e senti um prazer inigualável ao ver os sorrisos, o interesse ou uma simples buzinada como forma de reconhecimento daquele simples e amador trabalho de marinheiros de primenira viagem que improvisaram a todo momento para trazer alegria e ludicidade (Huizinha, J. - Homo Ludens) há um dia comum de trabalho.
Mais incrível ainda, foi compreender um pouco dessa relação corporal com os estudos, de forma clara. Primeiramente quiz compreender o porque da relação da nossa vivência corporal com a antopologia. Antropologia é o estudo do homem, mas não é só isso, já que em meados dos século XIX a antropologia deixa de ser um estudo formal, mas propõe aos antropólogos vivenciar, experimentar aquilo que se estudava do homem. Além disso a antropologia estuda o modo de vida, de forma a não julgar as diversidades culturais no sentido de melhor ou pior, mas perceber que a cultura provém da vida, das tradições e que também demonstramos toda essa diversidade cultural através dos nossos corpos que traduzem o que somos. (François Laplantine, 1988 - Livro: Da cultura do corpo - J. Daolio - 2005).
Mauss, também traduziu algumas percepções que tive da nossa experiência. No capítulo "Uma categoria do espírito humano: A noção de pessoa, a nossão do "eu", ele descreve a idéia primitiva da identificação do homem de si mesmo, e uma das formas eram as mascaradas, o personagem. Mauss nos fala de diversos povos com essa prática, que encarnavam ou reencarnavam ancestrais e se personificavam revelando outros seres. Nós quando nos vestimos, nos pintamos, nos mascaramos deixamos momentâneamente (assim como na Austrália - Máscaras temporárias) de sermos nós. Encarnamos personagem, e fizemos coisas que talvés jamais faríamos tendo a nossa postura de nós perante nossa sociedade. O uso da máscara nos leva a incrível dimensão -principalmente nesse caso, palhaços- de nos ridicularizar. A nossa sociedade não permite tais posturas e atitudes corporais no dia-a-dia, mas a mascarada nos remete ao ápice da quebra do paradigma imposto e nos permite utilizar do rídico para atingir o sucesso na personificação. Assim como no exemplo do Mauss, somos indivíduos com pápeis para figurar e juntos atingimos o objetivo do "clã". 
Já no capítulo "As técnicas do corpo", relacionei fatos da nossa vivência que foi uma percepção minha de observação ao que fizemos naquela noite, de como nós e as pessoas reagiam através de seus corpos aos fatos. Mauss afirma que cada sociedade tem suas características próprias e sem dúvida o Brasil tem enraízado na sua cultura a receptividade a coisas alegres. De forma geral, na análise feita, em pouco mais de duas horas de atividades, a maioria das pessoas contribuíram de alguma forma: discretamente através de buzinas nos automóveis, de forma mais distante, ou até interagindo junto e dançando com nós na rua, mostrando tamanha vontade em participar daquele momento.
Mauss também coloca a divisão das técnicas corporais entre os sexos, e observei algo latente em nossa vivência que aconteceu naturalmente. A nossa caracterização aconteceu ali na hora. Todos os integrantes levaram objetos que poderíamos usar, e naturalmente por uma questão social de feminilidade e masculinidade, sem perceber nós meninas nos apossamos dos objetos mais femininos e eles dos mais másculos. Apesar da caracterização e da ridicularização, a idéia de preservar nossa beleza sexual apareceu automaticamente e não nos fez quebrar os paradgimas e inverter os pápeis para atingir talvés uma personificação mais cômica. Além disso, houve momentos de participações e pessoas extra grupo, que no caso foram mulheres, e foi nítido perceber através dos corpos dos meninos que quando haviam essas aproximações por mais que os meninos estivessem dedicados ao trabalho, o desejo da "conquista" indireta falava mais alto, os deixando temporariamente menos envolvido a atividade e principalmente buscando a diminuição do rídiculo e a aproximação com seu eu do cotidiano. Essa observação, provavelmente também valeria para nós meninas, se tivessem sido rapazes ao se aproximar, e isso mostra que na nossa cultura brasileira da qual a conquista é algo tão aberto, diferentemente de outras culturas, nossos corpos se modificam a todo momento de acordo com a situação e explicitando a cultura embutida em nossos corpos.
Mauss também fala das técnicas do corpo de rendimento, do adestramento, da habilidade e adaptação aos movimentos coordenados assim como máquinas. Em todo momento da vivência, apenas um integrante do grupo se dispôs automaticamente a se jogar no chão em diversos momentos, e isso acontece devido ao fato de ele ter um corpo adestrado. Por ser lutador de tae-kwondo, têm toda uma técnica corporal de mais elasticidade e conhecimento, devido ao treinamento, de como saber cair, se jogar, e naturalmente fez isso diversas vezes como a representação de uma cultura corporal individual, enquanto eu e os outros, limitavam-nos a aquilo que nossa memória corporal nos permitia, sendo um pouco mais contidos nos movimentos.
Essa experiência trouxe novas percepções para nossos corpos e uma memória que não se pagará, mas muitas outras vivências foram feitas na classe, e com certeza todas elas berram a nova compreensão e percepção que temos aprendido sobre corpo. Comer comida estranha, ser um cadeirante, dançar com parangolés, vivenciar o mundo circense, entender a vida de um morador de rua, conhecer mais sobre os imigrantes...todas essas foram novas experiências vivenciadas.
Além de tudo isso, essa semana também tive a oportunidade de andar de skate, na iniciação a esportes radicais. Foi algo novo, já que eu nunca havia feito. Experiência que trouxe medo inicialmente, mas prazer logo depois, já que o corpo foi se adaptando e incorporando a adrenalina, trazendo prazer e a troca de experiências, já que algumas pessoas já possuiam as técnicas de como trabalhar com seu corpo para utilizar do skate e compartilhou isso, o que me ajudou a perceber que o corpo se adequa aos instrumentos e busca sempre o objetivo, inclusive para que o próprio corpo não sofra as consequências.
Todas essas experiências que nos tem sido propiciadas e que estamos aproveitando para conhecer, mostra-me que a forma antropológica da experimentação traz uma nova concepção de vida e principalmente de estudo. Como escreve Daolio, é a idéia do "formar-em-ação" e que me remete a junção de tudo que tenho aprendido desde o início de ano compreendendo que a educação física tem que ser "plural", ativa, irreversível, contemporânea. A ciência quântica, quebra a visão cartesiana do homem máquina, fragmentado e a educação antropológica, mostra um corpo livre, inteiro, disposto a entrar em ação desde que a proposta da educação seja quebrar paradigmas e proporcionar o desejo de aprender, da sabedoria e não de jaulas com lousas, cadeiras e cópias...cópias que é repetição e não ação.

Bibliografia:
MAUSS, Marcel - Sociologia e Antropologia. E.P.U, edusp, São Paulo, 1974 - 1º edição.
DAOLIO, Jocimar. Da cultura do corpo. Editora: Papirus, Campinas, 1995, 108 p.