Vivências... Essa foi a palavra da semana, e será ainda de muitas que virão.
Tenho compreendido a cada dia a importância da exploração do corpo. Não sei o que consigo fazer, o que gosto de fazer, desconheço minhas habilidades, mobilidades. A exemplo disso foi a aula de vivências terrestre. Saltitar, sincronizar movimentos -tão naturais do andar- em uma demonstração em câmera lenta de corrida... Movimentos que esquecemos que existe, que deveriam ser tão normais já que é nosso corpo, mas que ganha até sentido bizarro devido a nossa falta de experimentação. Me senti até constrangida ao perceber a dificuldade que tenho de arremesar uma bolinha de meia a uma certa distância para acertar objetos, mas não foi só esse sentimento que valeu, mas também a percepção de que coisas tão simples não são simples para todos, de que talvés aquilo que para mim é insignificante de tão fácil, para outro pode ser complexo e tenso e vice-versa, é a idéia e a reflexão que tudo depende do contexto.
Novas experiências possibilita, em alguns casos, frustração ou prazer, alegria, estranhamento, tensão e também parte disso foi vivido na exposição que fizemos sobre Corpo, Jogo e Luta. A idéia é que pudéssemos compreender dentro de um único tema a junção dos assuntos. Huizinga (2005) no capítulo O Jogo e a Guerra de Homo Ludens, transmitiu o abrir dos olhos para ver o lúdico, o jogo, dentro da vida, inclusive na guerra ou na luta. O índio, tema da encenação, nos levou a essa compreensão. Primeiramente percebemos-o como totalidade de corpo. O índio quinhentista (mais do que o índio do séc. XXI) expirava cultura, estilo de vida. Seu corpo era a demonstração viva de seu todo, sua arte, sua história, sua cultura, assim como hoje na nossa cultura urbana vemos pessoas que se transformam, fazendo tatuagens, piercings, implantes, entre outros, para mostrarem o que são, sua ideologia, assim também os índios representavam em suas pinturas, suas transformações aquilo que era sua vida, sua tribo. Os índios compreendiam sua visão total interligada com a natureza, se enxergando nela e vendo-a sendo ele, o índio estava muito distante da idéia cartesiana, de corpo máquina, matemático (A nova Aliança - Ilya Prigogine e Isabelle Stengérs – 1991), o índio tem em si a liberdade de expressão, a diversidade exposta, o todo não platônico, o todo livre, o todo arte como diz Inês Bogéa no livro Espaço e Corpo de Ivaldo Betazzo "O corpo se comunica por movimentos, sons e palavras que expressam um saber."
A luta também é vista de forma clara na vida do índio, seja a luta idealista, por mantér sua cultura, seja guerreada corpo a corpo, em suas batalhas com o homem branco ou com tribos rivais. A luta do índio é lúdica, é jogo, pois tem as caracteristicas como um local (na tribo, na floresta), tempo, é constituída de uma presença marcante do ritual (pintura, dança, adoração aos deuses), é livre, já que para a cultura indígena antiga ser guerreiro é ser honrado, a luta por ideais concretos (manter sua terra, honra pelos guerreiros, etc), a luta é tensa, é livre. Também percebemos que nesse caso há uma perca de característica lúdica, já que quando também falamos de índios, principalmente da época do descobrimento (exemplo: Tribo Tupinambá), uma caracteristica marcante era a idéia da morte do seu oponente, podendo até ir mais adiante num ritual de antropofagia (Os índios e o Brasil – Mércio Pereira Gomes – 1988, 2º ed. e Hans Staden - Duas Viagens ao Brasil, 1558) do qual além de capturar seu oponente, eram feitos vários rituais e depois ele era morto, esquartejado, e comido por todos membros da tribo, lembrando que esse ritual era feito apenas com oponentes guerreiros e fortes e nunca com um oponente fraco e covarde, já que os índios acreditavam que ao ingeri-lo seu espírito forte passaria a pertencer agora a tribo vencedora. Esse fator da antopofagia, ou apenas da morte, faz com que se perca uma característica lúdica ja que segundo Huizinga, a luta lúdica está ligada algumas vezes ao derramamento de sangue, mas não a morte, já que pode-se atingir a honra sem a morte do oponente.
Maravilhoso não foi apenas compreender e saber aplicar o conteúdo escrito em algo prático, mas também vivenciar a prática. Experimentamos ser índios, nos vestir, nos pintar, interpretar como tal. E eu apesar de não ter encenado como índia, senti tensão em daclamar palavras num contexto teatral, algo que eu nunca havia feito antes. Perceber essa conexão do teórico com a vivência além de ser um aprendizado nos faz crescer, explorar, sentir algo novo.
Apresentação Corpo, Jogo e Luta - Experimentando ser índio
Essa idéia de sentir, de experimentar foi discutido no programa Café Filosófico CPFL, do dia 07/05/2010 (veja o link de acesso ao final da postagem) com Viviane Mosé sobre a "Educação", da qual são feitas diversas percepções do que é a nossa educação hoje, do que são as escolas, do modelo fragmentado do qual limita-se ao umbigo de cada indíviduo produzindo um "ensino" em série, fraco que não experimenta, fechado entre grades e um sistema militarista, tratando como uma linha de produção de uma fábrica, sem notar a singularidade do individuo, mas também sem perceber o todo como um sistema que é conectado, interligado com um mundo lá fora, que também está aqui dentro.
Pink Floyd - Another Brick in the Wall
Que mostra a visão "industrial" da escola, onde os alunos são apenas uns amontoados de carne... Não levando a experiência, tampouco ao aprendizado.
Essa conexão com o mundo pode se dar também através da arte, como a dança que a exemplo do filme "Vem Dançar" proporcionou a integração, transmitindo através do procedimental o melhoramento atitudinal (Suraya Darido - Para Ensinar Educação Física). O comprometimento do professor ensinou muito além de passos de dança, mas conceitos para um melhoramento como cidadãos, proporcionando aos alunos a abertura das portas para uma nova experiência, rompendo os preconceitos e utilizando de estratégias e fundamentação para que houvesse uma aceitação não só dos alunos, mas também um rompimento da barreira burocrática da visão limitada do conselho.
Lidar com educação é mais complexo do que imaginamos, mas tenho aprendido algo fantástico: Mais importante do que ensinar é proporcionar oportunidade do outro buscar, aprender, vivenciar. Nosso mundo contemporâneo não permite mais a passividade, o comodismo. Temos que aprender a utilizar as ferramentas dos avanços tecnológicos a nosso favor, fazendo cada vez mais curiosos, mais ativos ao invés de nos levar a uma passividade depressiva e fragilizante. Mudar não é fácil, experimentar não é fácil, como já citei, pode nos causar tensão, medo e até vergonha, constragimento, mas são essas experiências que nos permitem um conhecimento que vai além das palavras, das teorias, mas um conhecimento sentido no corpo que é a vida!
Link - Trecho do programa Café Filosófico CPFL - Viviane Mosé
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